na última quinta-feira, finalizei meu trabalho e resolvi tomar uma cerveja. sozinha, dessa vez. peguei o
metrô e fui até a estação parada inglesa. desci e parei no primeiro posto que apareceu. um shell com dois
frentistas entediados e uma
conveniência vazia. era o lugar certo. fiz cara de não-enche e entrei na loja. peguei uma
skol, paguei e sentei no
banquinho de fora. finalmente me espreguicei.
estralei a nuca. olhei pra cima e suspirei. peguei a segunda, aí a terceira. aliviada, mas talvez tão
entediada quanto aqueles dois, fui embora. estava pra pegar o embalo da escada rolante, quando uma senhora me ultrapassou e
empacou na minha frente. ela usava roupas de lã muito coloridas e um gorro bizarro, daqueles com
pom-
pom em cima. estava com uma mala de rodinha - a tal mala que fez com que ela demorasse anos pra "entrar" na escada. percebi a dificuldade daquela velhinha e fiquei com pena. as duas já levadas pelo degrau, me aproximei:
- a senhora quer ajuda com a mala? - perguntei, olhando em seus olhos. sua pele era muito, muito enrugada.
- vai, dona! vai! ajudá o quê? ajudá como? vai, vai, vai andando! - berrou, com sua mão esquerda segurando a mala e a direita me expulsando dali com movimentos firmes.
saí andando muito rápido e de cabeça baixa. cheguei na catraca com os olhos cheios de lágrimas. me espantei com aquilo e logo me recompus. não sabia bem se era raiva ou susto. ou os dois.
bem-feito pra mim, que fui ter pena de alguém com muitas rugas e muita pressa.