quarta-feira, 27 de outubro de 2010

recado-passado sem prosa

trate-me como sempre foi que eu finjo que não mudei
toque-me com desejo que lhe faço doer
guarde seu sarcasmo que eu guardo os meus medos
faça seus planos e me conte, assim invento uns outros e os descrevo com detalhes
poupe-me das suas dúvidas que eu lhe poupo do que tenho certeza.

aí a corda bamba vai parecer um pouco mais firme e poderei caminhar sobre ela como se flutuasse.




terça-feira, 19 de outubro de 2010

eu-lírico

a vontade de escrever era diária. hoje me disponho a expor qualquer-coisa muito de vez em quando e, nessas vezes poucas, mais apago do que publico. penso que algumas outras atividades ganharam status-vital, enquanto esta, quase-tão aconchegante quanto meu silêncio, porém mais frágil, tem-se-perdido no nada. naquela fase de me perguntar os porquês, lembro da ansiedade. dos movimentos longos, dos mais curtos, da tensão. não sei, de verdade, se ela está escondida aqui, talvez dopada por um tempo, aguardando lá no fundo seu momento triunfal de acordar. deve estar domada por uma calma ainda crua. ainda sem pêlos e sem todos os dentes. como ela tem algum poder, também não entendo. não entendo muitas coisas e ainda me sinto triste por isso. mais uma prova da imaturidade. quando eu sentir, mas sentir mesmo, lá no fundo, que não é possível saber tudo, este será o dia da construção do busto da minha paz. será branco. e eu vou morar dentro dele pra sempre, no alto da montanha mais alta do mundo, onde não é possível respirar o que respiro hoje, mas só o que tem lá em cima.

domingo, 3 de outubro de 2010

[meu] ensaio sobre o gosto

das coisas que me agradam, algumas sofrem por um processo-de-afeto muito confuso que - ainda - me deixa perplexa.
primeiro, existe o meu gostar. indiscutível (por falta de argumentos ou excesso de em um lado só da balança). aí vem o mergulhar, que dura pouco e é bem intenso. depois cai num evitar, sem grandes esforços. é meio que um turn a blind eye pro que não deveria parecer coisa errada. então, o que era só um desvio vira desespero, uma ânsia absurda por distância. não posso ver, ouvir, tocar, nem mesmo lembrar, sem que meu corpo entre em colapso. só o fato d'essa reação anormal não estar sob meu controle já me deixa à flor da pele. essa fase também dura pouco. aí vem o branco: é como se nunca tivesse ouvido falar naquilo. até que os fatos começam a me levar à coisa novamente. um dia depois do outro, e lá vem ela se apresentar a mim. percebo, então, que gosto daquilo.
finalmente, é um gostar tranquilo, que quase sempre dura pro meu sempre.