terça-feira, 28 de setembro de 2010

tempo, tempo, tempo, tempo...

um outro nível de vínculo.

Foi assim que encontrei dalia

Ao toque do gracejo, da zombaria

No errado atraente que vibra e sacia

Tamanho desejo de ser vadia

Do suborno quente que meus peitos

Oferecem à boca sedenta de prata

Das palavras chulas que meus lábios carnudos insistem em declarar

Da rima mal feita, dos acordes maiores, do pandeiro bruto e sedutor

Foi daí que me nasceu dalia

Da conquista diária

De Caetano à Amélie

Dos bandolins e botequins

Tá na cara!

Foi assim que me encantou dalia

Essa dança entregue ao pulso

Esse corpo entregue ao mundo

Essa ânsia imensurável por amor

É assim que faz doer dalia

A nudez dourada e imperfeita

Que as sementes trazem em flores vermelhas

O café que pensa

O cigarro que cala

Os vestidos que voam

É assim que faz amar dalia

É assim que se faz dalia: Acordes, amor e zombaria.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quase meio-dia, cheguei na estação do metrô. reconheci uma mulher que estava ali perto. ela havia sido minha professora de português mais ou menos na sétima ou oitava série. nos cumprimentamos, felizes. ambas lembrávamos de nomes, cenas, colegas e aspirações da época. o diálogo de uma estação me deixou com um sorriso discreto e pensativo por todas as demais, até a luz. estava quase passando pela catraca quando um rapaz gritou meu nome. olhei pro lado, e lá estava ele: um colega da escola que eu não via há pelo menos oito anos. nos cumprimentamos, felizes. ambos lembrávamos de nomes, cenas, colegas e aspirações da época. aquele sorriso aumentou.
na aula de piano, as aspirações de uma outra época tomaram corpo e som e alma. diálogos infindos sobre ele, o som, e sobre a alma, a filosofia, seres humanos, seres sobre-humanos e deus.
mais tarde, alunos aplicados - uns mais, outros menos. um dia sem faltas, cheio de notas. boas notas.
à luz da cheia lua, um show de voz e sentimento. musicalidade pura.
depois da meia-noite, um abraço apertado no tão-amado aniversariante da vez.

é bom demais terminar o dia assim, com um sorriso só não maior por falta de espaço.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

nada

esses dias me bateu uma vontade enorme de viajar. uma amiga me contou sua experiência num retiro espiritual que tem aqui perto. ela passou quatro dias lá. acordava às cinco da manhã. meditava até sete e meia. fazia ioga até dez horas e só então ia tomar o café da manhã. umas frutas e cereais e outras coisas do gênero completavam o cardápio. depois conversava com o "dono" do lugar, numa espécie de terapia disfarçada. tinha a tarde toda pra não fazer nada e às oito da noite todas as luzes se apagavam.
considerei a possibilidade por um tempo, mas entendi que talvez meu estômago ainda não esteja preparado pra tantos espelhos numa sala fechada.
pensamos em buenos aires. foi difícil achar uma data compatível até o fim de outubro (quando acaba o prazo de uso de umas boas milhas de desconto). tão difícil que realmente não deu certo.
bom, eu só queria uns dias de céu azul, ar puro, silêncio, amigos pra me espantar de mim um pouco, leite com nescau gelado ao acordar às onze horas, almoço farto, uma ou duas cervejas, que é o que dá... mas, acima de qualquer coisa, nada.
absolutamente nada na cabeça.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

narração sem foco

foi um dia de muito a fazer e pouco a pensar. música o dia todo. uma porção de encantos ainda não absorvidos, outra que pode ficar esquecida. quando cheguei em casa, meu corpo e minha mente competiam pelo maior peso. sabia que se fosse dormir àquela hora, sonharia com quadrados mágicos no espelho de bolso do stravinsky, enquanto ele conversava com debussy sobre os horários de reposição de suas aulas da semana seguinte, já que teria que desmarcar todos os alunos dessa semana para assistir à sétima sinfonia de mahler na sala são paulo. então jantei minha lasanha de calabresa com guaraná enquanto lamentava o primeiro gol do corinthians. no intervalo, pulei pro debate dos candidatos ao governo do estado de são paulo. muitas promessas, dados estatísticos duvidosos e microfones-mutados-ao-final-do-minuto-e-meio depois, fui pra cama. pensei no Sol que está na espanha agora e me bateu uma vontade de chorar. coloquei caetano pra cantar "mora na filosofia" e me deixei chorar. antes de finalmente apagar, peguei o livro dos anjos, meditei um pouquinho nele e abri: "o anjo da magia". pensei ainda mais no Sol e em coisas de amor, assim, e chorei mais um pouco. finalmente dormi.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

umas cervejas e uma senhora

na última quinta-feira, finalizei meu trabalho e resolvi tomar uma cerveja. sozinha, dessa vez. peguei o metrô e fui até a estação parada inglesa. desci e parei no primeiro posto que apareceu. um shell com dois frentistas entediados e uma conveniência vazia. era o lugar certo. fiz cara de não-enche e entrei na loja. peguei uma skol, paguei e sentei no banquinho de fora. finalmente me espreguicei. estralei a nuca. olhei pra cima e suspirei. peguei a segunda, aí a terceira. aliviada, mas talvez tão entediada quanto aqueles dois, fui embora. estava pra pegar o embalo da escada rolante, quando uma senhora me ultrapassou e empacou na minha frente. ela usava roupas de lã muito coloridas e um gorro bizarro, daqueles com pom-pom em cima. estava com uma mala de rodinha - a tal mala que fez com que ela demorasse anos pra "entrar" na escada. percebi a dificuldade daquela velhinha e fiquei com pena. as duas já levadas pelo degrau, me aproximei:
- a senhora quer ajuda com a mala? - perguntei, olhando em seus olhos. sua pele era muito, muito enrugada.
- vai, dona! vai! ajudá o quê? ajudá como? vai, vai, vai andando! - berrou, com sua mão esquerda segurando a mala e a direita me expulsando dali com movimentos firmes.
saí andando muito rápido e de cabeça baixa. cheguei na catraca com os olhos cheios de lágrimas. me espantei com aquilo e logo me recompus. não sabia bem se era raiva ou susto. ou os dois.
bem-feito pra mim, que fui ter pena de alguém com muitas rugas e muita pressa.