terça-feira, 14 de dezembro de 2010

a mulher de calcinha

a mulher de calcinha acordou sozinha. sentiu-se gravemente só. lavou o rosto com água gelada e tomou seu café preto. o mundo não ia muito bem econômica-política-social-mente, pelo que as letras sujas do jornal diziam. as festas de natal, sim, iam muito bem. as competições pelo melhor enfeite iam de vento em popa em todo o país. bocejou.
seu telefone tocou:
- sim?
- bom dia, querida!
- oi, mãe.
- como você está?
- sentada.
- e o trabalho?
- o trabalho e o tempo não têm se dado bem.
- oh, filha... quando você vai parar? quando vem nos ver?
- você sabe bem que uma coisa não leva à outra, não é?
- tenho fé que leve.
- semana que vem estarei aí.
- ótimo, filha!
...
- sentimos sua falta, querida...
- semana que vem, tá bom?
- está bem.
- tchau.
- um beijo, filha! bom trabalho!
a mulher de calcinha levou as palmas das mãos aos olhos e os pressionou com muita força. seus lábios se comprimiam mais e mais e seu peito tremia. enfim, soluçou. limpava as lágrimas com muita pressa, com medo da solidão notar o acontecido e gargalhar às suas custas. soluçou.
levantou-se da poltrona e foi até o banheiro. fitou-se no espelho com muita firmeza. ali ficou por algum tempo, até que os soluços cessassem e o peito voltasse a inspirar e expirar com consciência. então colocou as mãos sobre os seios. começou a acariciá-los até que seus bicos ficassem rijos. deu um longo beijo no espelho, deixou cair mais uma lágrima e foi trabalhar.