segunda-feira, 12 de setembro de 2011

dedicatória insatisfeita

aos mal educados, gentileza.
aos arrogantes, indiferença.
aos desleixados, verdades.
aos intelectuais, surdez.
aos ingênuos, história.
aos burros, paciência.
aos rudes, sorriso.
aos céticos, dor.


a mim, fé.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

a dor e a delícia

hoje penso na parte patética da humanidade. a que usa as lentes cor-de-rosa novamente e viaja por aí transpirando alegria. em todos os sentidos, juntos, muito além dos cárceres em que nossos olhos nos obrigam a viver.

é gostoso pensar sobre a vida e não chegar a grandes conclusões, e aí ser surpreendido por ela, sentir nada menos do que muitas e muitas fichas caindo, uma a uma, pouco a pouco, cada qual no seu canto, cada respiro no seu momento.
notas e pausas se complementam, e é assim que é.



são todos sãos, os que enxergam as verdades-tais.
e os que enxergam as suas próprias... esses são os gênios.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

era.

era uma vez um ego.
e um outro.
apaixonaram-se secretamente. por muito tempo.
imaginavam alguma reciprocidade, mas não seria possível confirmá-la assim, diante da vida como ela era.
todas as noites, cada qual com sua solidão, criavam as mais delirantes e apetitosas fantasias.
um dia (no mesmo dia, mal sabem eles) perceberam que a imaginação não seria suficiente. tanto amor, assim...
encontraram-se ao acaso e encarnaram tudo o que haviam guardado por tanto tempo, sem hesitar.
e assim fizeram por eras e eras, até que seus corpos cessassem num colapso bruto e mortal.

a morte os recebeu com um sorriso discreto, os abraçou com muito carinho e suspirou:
- jovens...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

o daltonismo

evito a misantropia quando as lentes coloridas estão inteiras
mas começam a ficar velhas e tenho que trocá-las.
nesse meio tempo vejo tudo a corpo nu

bom, bom, aí toda aquela história de botar-fé vira do avesso
e até quem (acho que) conheço
me deixa sozinha no verde a vai pro azul.

quarta-feira, 30 de março de 2011

ironia

do meu poema romântico, não espero metade
daquela dança que gira
em palavra e verso-esfera

já são todos assimétricos e eu já não tenho dedo
pra catar milho bom de recitar
ou mesmo me inspirar
com o aroma da manhã bonita

não sai mais nada daqui
porque aqui dentro só se inspira a louca varrida
quando a coisa tá feia de vez
e olha que a beleza às vezes confunde
mas confunde mesmo
até não dar mais pra saber o que é crise e o que é paz.

meu deus, tá quase tudo se
a-
riscando.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

canção da água do rio

já não me pedem poesia
nem meu corpo
nem meu tempo

porque o meu tempo agora é outro
é mais presente do que os sonhos queriam

a insistência virou colega fria
de uma alma fria como aquela
que não sabia o que queria
e se perdia
e se perdia

as sedes que deixei me deixaram sem querer
ainda andam por aí
mas não reconheço nada

a minha cegueira já foi embora
com aquela alma fria de outra hora
que não sabia o que queria
e se perdia
e se perdia

já não me pedem poesia
nem meu corpo
nem meu tempo

porque o meu tempo agora é outro
porque o meu tempo agora é outro
porque o meu tempo aprendeu a ser só